domingo, 30 de agosto de 2009

Me arrume um bom título

Sujeito 1 diz (11:31):
tomei uma superdosagem de café
estou superligado
Sujeito 2 diz (11:31):
ueuheuheeh
todo dia, no trabalho eu tomo 200 ml de cafe expresso
aqueles de maquina
fortão man
vc fica no speeed tb
Sujeito 3 diz (11:32):
caralho
Sujeito 1 diz (11:32):
é, dá energia na hora
café é insano pra produzir
trabalhar, escrever, ler
Sujeito 3 diz (11:32):
eu tomo só um copinho depois do almoço só pra não cair no chão de sono
Sujeito 1 diz (11:32):
acho que cocaína tem efeitos parecidos também, mas nenhum estudo fala sobre isso
Sujeito 3 diz (11:32):
mas café é bala mermo
Sujeito 3 diz (11:33):
o chá da coca que deve ser difuder
Sujeito 1 diz (11:33):
porra
dá pra fazer é?
Sujeito 3 diz (11:33):

Sujeito 1 diz (11:33):
é da folha?
Sujeito 3 diz (11:33):
a galera bebe nos andes
é tradição
Sujeito 1 diz (11:33):
ah, to ligado
é da folha mesmo
Sujeito 3 diz (11:33):
é
Sujeito 1 diz (11:33):
dizem que a onda é muito energética
você fica com pulmão pra correr 500m
Sujeito 3 diz (11:33):
aham
por isso eles aguentam viver naquela altitude
Sujeito 1 diz (11:34):
só na onda
Sujeito 1 diz (11:35):
rapaz
toda maconha que eu trato em casa
eu jogo as sementes e galhos aqui na janela
Sujeito 3 diz (11:35):
eu tbm faço isso
Sujeito 1 diz (11:35):
deixo aqui na parada da janela
toda vez que eu olho, essa parada tá cheia de galho e semente
Sujeito 3 diz (11:36):
UHAEUEAH
deixe aí
Sujeito 1 diz (11:36):
se minha mãe sacasse de maconha, eu já tinha rodado
mas se ela sacasse de maconha, fumaria comigo.
Sujeito 3 diz (11:36):
um dia vc pode tá na bruxa e fumar esses galhos
Sujeito 1 diz (11:36):
é
nunca se sabe a bruxa de amanhã
Sujeito 3 diz (11:36):
uheauHAEU
frase do dia
Sujeito 3 diz (11:37):
"Nunca se sabe a bruxa de amanhã" CHECKER, Idea. 2009.

...E a(s) Porra

É comum nós, soteropolitanos, falarmos no fim das sentenças uma expressão que é de todo prescindível. Refiro-me ao "e as porra" (ou "e a porra" na versão sem o "s"). A razão de existir é por mim desconhecida e não quero, aqui, investigar - deixo para os estudiosos, linguistas, antropólogos, quem quer que seja que se ocupe disso. Na verdade, por ter um palavrão no meio, eu vou ensinar a substituir o "e as porra" por algo - uma palavra - mais elegante que vai fazer você deixar de ser aquele maluco que só fala gíria (e alguém que tenha mais de vinte e cinco anos poderá lhe entender um pouco melhor), qual seja, o "inclusive".

Irei aos exemplos:

- Porra, o bicho pegou ontem, apanhei e as porra.

Substituindo temos:

- Porra, o bicho pegou ontem, apanhei inclusive.

O "inclusive" não precisa necessariamente ocupar na frase o mesmo lugar que o "e as porra":

- Porra, o bicho pegou ontem, inclusive apanhei.

Outro exemplo:

- Comi uma água da porra ontem, vomitei e a porra.

Substituindo temos:

- Comi uma água da porra ontem, inclusive vomitei.

Fica mais bonito, charmoso, formal e até mais compreensível. Fica menos paloso também. Mostre pros seus pais, pra sua avó e pros seus amigos, o quanto você é um cara culto que fala menos gíria e todos o acharão legal. As gatinhas vão se amarrar. Dúvidas?


Leitura recomendada: http://br.geocities.com/agatha_7031/inclusiv.html

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Ace Of Spades


"The ace of spades (also known as the spadille) is traditionally speaking the highest card in the deck of playing cards, although the actual value of the card varies from game to game. In popular myth and folklore, it is also known as the 'death card'."
http://en.wikipedia.org/wiki/Ace_of_spades

"O ás de espadas é, tradicionalmente falando, a maior carta no baralho embora seu valor real varie de jogo para jogo. No mito popular e no folclore, é conhecido também como o "cartão da morte '."






Todas as imagens foram encontradas com o uso do Google imagens.


Caras que levam a sério esse negócio de ás de espadas:
http://en.wikipedia.org/wiki/Ace_of_Spades_(album)
http://letras.terra.com.br/motorhead/27189/
http://www.youtube.com/watch?v=9e5cqe_JE0Q


Obs: Não encontrei uma tradução decente para "spadille", além de "espada" mesmo, então desisti de colocar essa informação em português. Na verdade, a palavra "spade" tanto significa "espada" quanto "pá", sendo "spadille" uma variação no diminutivo. Aparentemente consideram "spadille" somente quando se tratando de jogos de carta, o que deve facilitar a identificação desse ás no baralho. Se algum frequentador do blog souber uma tradução melhor, comente.

Obs2: A versão em português do Wikipedia não possui uma definição para o ás de espadas. Tem somente para a carta ás, e é uma definição bem chula.

Sobre a palavra "spadille":
http://dictionary.reference.com/browse/spadille
http://www.merriam-webster.com/dictionary/spadille

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Presença

Propaganda nova do Bradesco descontextualizada


Propaganda nova do Bradesco na sua idéia real




Comentário-Xeque:
Essa presença está miada. O fino gigante não vai bater onda em todos que estão nesse estádio. Só há um cara entende de presença nesse país:




Links:
http://www.miada.com/
http://www.oesquema.com.br/mauhumor/2006/09/20/all-apologies.htm
http://presa.blogger.com.br/
http://www.presa.blogger.com.br/2004_11_01_archive.html

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Tempos Melhores Virão Depois do Ano Passado em Salvador

Na época eu morava num quarto-e-sala nos Barris, sem dinheiro no bolso, sem mulher, sem porra nenhuma, apenas com um pinscher hiperativo. Eu gostava de ficar em casa fumando um e assistindo TV. Era quando eu relaxava. Eu era caixa no Banco do Brasil do Comércio de segunda a sexta. Era um saco. Sábados e domingos eram menos chatos, mas não menos . O que me alegrava mesmo era o futebol, especificamente o Esporte Clube Bahia. Só que nesse tempo o Bahia tava uma bosta, só levava porrada. Há muito o Bahia tinha deixado de ser temido pelos adversários. Tive sorte de ver o time bem. Eu tinha doze anos e tava na Fonte na final com o Inter, em oitenta e nove. Aquilo sim era futebol. Não essas bostas, cambada de perna-de-pau do caralho. Nesse ano o Bahia tava mesmo um cu. Um tempo de malditas vacas magras. Eu não aguentava mais a gozação na rua, no trabalho e todo aquele negócio. O Vitória na série A e o Bahia na B. Que bosta! E o pior era que estávamos jogando em Feira de Santana por causa do acidente na Fonte e tudo mais. Por conta disso paguei com muito esforço o pacote dos jogos na TV por assinatura. Não podia ir a Feira, mas também não podia ficar sem assistir os jogos.

Quando não tinha jogo, eu também gostava de brincar com a minha carabina. Colocava uns alvos no sofá e ia pro outro lado do apartamento atirar; também sentava no sofá e colocava os alvos em cima da televisão. Geralmente usava garrafinhas de iogurte. A parede era toda furada de balas de chumbinho.

Era sábado a tarde e eu decidi caçar lagartixas com a minha carabina antes do Bahia x Fortaleza. Ali uma subindo a parede. Tei!, passou perto. Ela saiu correndo como uma maluca e parou dois metros adiante na parede. Mirei bem na ponta da cabeça. Tei!, ela se espatifou no chão. Saí procurando outras, mas não achei. Achei uma barata. Mirei bem de pertinho e... Tei! Se fudeu. "Que horas são?", perguntei a mim mesmo. Olhei no relógio, quatro horas. Vou ver o jogo.

O Bahia começou atacando. Elias deu um passe de uns trinta metros pra Ávine, que avançou pela esquerda, mas levou uma jogada de um maluco do Fortaleza e saiu rolando pelo chão. "Falta, seu juiz filho de uma puta!" berrei alto pro prédio todo ouvir. "Ladrão! viado! sua mãe é minha!", gritei mais uma vez com vontade.

Paulo Isidoro chutou a meia altura de fora da área e gol. Fiquei pirado. Peguei a carabina e carreguei com um chumbinho mais aerodinâmico - com maior poder de perfuração -, mirei num copo de vidro e tei!, estraçalhei-o. Fui na cozinha buscar uma garrafa de 51. Enchi um copinho e virei. Enchi outro e virei. Acendi um baseado. Quando voltei, a porra da partida já tava dois a um pro Fortaleza. Malditos cearenses filhos da puta. Arremessei o copo contra a parede. O baseado me acalmou e até fez reacender um fio de esperança, não sei o porquê. Intervalo. Fui à janela com a carabina pra fumar um cigarro. Com o cigarro na boca mirava nas pessoas da rua e fingia acertá-las.

O segundo tempo foi uma merda só. Marcelo Nicácio fez de cabeça, o que me deixou puto. Dei um tiro na televisão e outro e mais outro. Já era a imagem. Tomei um porre filho da puta de cachaça e decidi descontar minha raiva em alguém. O pinscher tava andando de costas pra mim. Mirei certinho no cu dele. Tei!, na mosca. "Caim, caim, caim", ele agonizava. Fiquei assistindo sua morte durante uns trinta minutos e fui bater uma punheta. Quando voltei ele ainda tava vivo, então dei um tiro de misericórdia bem no seu olhinho.

Hoje sinto falta do meu pinscher; o Bahia dá poucos sinais de melhora, e a minha vida continua a mesma merda.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Aventuras de um Estagiário - 3

Fiquei viajando nesse negócio de ser chamado de doutor. Por que ele me chamou de doutor? Eu nunca defendi nenhuma tese - as únicas que eu defendo são em discussões em mesas de bar, nada acadêmico. Eu usava uma gravata cinza e um paletó preto. Talvez isso, por si só, faça com que eu adquira esse título. "Doutor Márcio Azevedo", estaria escrito na porta de entrada do meu escritório. Melhor: "Dr. Azevedo". O doutor abreviado e só com o sobrenome dá um ar mais maduro. Os clientes vão me procurar pensando se tratar de um advogado com cabelos brancos e vasta experiência. Vão quebrar a cara. Durante quarenta anos vão quebrar a cara até que eu tenha a aparência necessária. Uma gravata no pescoço dá status. Tive a idéia de pegar um mendigo e deixá-lo na beca e colocá-lo pra fazer uma audiência. Depois ele iria num restaurante chique, tomaria whisky, comeria lagosta e transaria com uma gostosa que nunca daria pra ele nas CNTP. Acho que todo mundo deveria poder fazer isso algum dia.

Enquanto eu tava com essa idéia na cabeça, saiu um grupo de quatro pessoas, dois homens e duas mulheres, o que interrompeu meu pensamento. Eles estavam rindo. Já estava há duas horas ali e não os tinha visto. Eram, com certeza, os funcionários que tinham terminado o culto a Satã regado a muito crack e cérebros de crianças e estavam indo pras suas casas curtir a sexta-feira na bruxa, felizes da vida. Nem olharam pra dúzia de pessoas que estava ali. Estavam distraídos. Imagine. Pessoas com seus direitos ali, nos armários: suas indenizações, o dinheiro que deveria ter recebido, a angústia sofrida, o dano moral, patrimonial, tanta coisa. Mas eles não tão nem aí. Não tão dando a mínima pra porra nenhuma. Aqueles processos são um monte de papel velho e não significam nada. Ah, sim, significam! significam trabalho. Coisa que ninguém quer. Nem eu quero. Se eu não quero, imagine os servidores. Eles querem passar a tarde batendo papo e fazendo homenagens a um deus com chifre e rabo (sim, um deus, porque pra bater testa com Deus, acho que só outro deus, senão seria uma briga desleal e não teria nenhum sentido essa coisa toda. Afinal, qual a graça de ter Deus sem ter o diabo? Um não teria razão de existir sem o outro). Eu também preferiria isso se acreditasse. Eu mesmo poderia estar na praia fumando maconha e bebendo cerveja com meus amigos, mas tava ali. Somos como Deus e o diabo. Ambos se odeiam, mas precisam um do outro. Estagiários e servidores, Deus e diabo. Quem corresponde a quem? Bem e mal. Eu quero ser do bem, mas o mal também é legal. Deus é do bem? O diabo todo mundo sabe que não é, mas Deus. Ele criou um mundo insano e colocou nele os seres mais insanos, os humanos. Os humanos gostam de brigar, se odeiam entre si, fazem bombas e se matam. "Que tédio. Quero ver um pouco de ação. Vou criar esses seres que andam em pé e comem sentados pra ver como eles se comportam. Ah, vou deixar eles pensarem, também, só pra ver no que dá. Vai ser divertido", foi o que Deus pensou ao nos criar. Conclusão: prefiro ser Deus. Então fica assim, os estagiários são como Deus e os servidores públicos estaduais como o diabo que fica atrapalhando nossos planos. Lembra também as Tartarugas Ninja e o Destruidor.

Aquela cena dos funcionários saindo do serviço me fez ir embora pro escritório. Eu me sentia o próprio Josef K.

Continua...

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Aventuras de um Estagiário - 2

No cartório fazia calor. Dois ventiladores enormes expeliam um vento quente. Eu, que já tava um pouco úmido, comecei a suar no sovaco e no peito, depois nos braços - tenho sudorese, então minhas mãos vivem suadas. Uns cinco caras apoiados no balcão e mais cerca de dez pessoas sentadas em cadeiras aparentemente confortáveis esperavam pacientemente caladas por um atendimento de viv'alma.

Do outro lado do balcão, ainda havia alguns que, um pouco impacientes, aguardavam qualquer serventuário. Encontrei meu amigo Carlos. Um cara gente boa até.

- E aí, man. Essa é a trigésima vara, né? - perguntei só pra puxar assunto com ele, um cara legal.
- Aqui mermo. Welcome to the jungle. Pegue sua senha.

Peguei o número cento e trinta e um.

- Tá em que número?
- Noventa e sete.
- Qual o seu?
- Cento e dezessete.
- Puta que pariu.

Sentei e comecei a ler um livro que tinha levado. A Arte de Escrever. Se alguns autores de direito lessem isso, se jogariam num precipício (só alguns, ou algum). Entretido com a minha leitura nem vi o tempo passar, mas percebi que ninguém tava sendo atendido. Carlos continuava ali de pé no balcão e mais pessoas chegavam. Resolvi encostar no balcão pra ver o movimento e tudo mais.


- Sabe o que precisa pra melhorar isso daqui? - perguntou Carlos.
- Trabalhar com metas de produtividade - respondi.
- Esse é o segundo passo. Primeiro tem que acabar com as prerrogativas dos juízes como, por exemplo, a vitaliciedade. Eles sabem que nunca vão ser demitidos e sabem também que vão ganhar todo mês o mesmo salário, seja trabalhando muito ou pouco.
- É verdade. Aliás, cadê os funcionários daqui?
- Não sei.

Dei uma olhada pra dentro do cartório e, de fato, não havia ninguém. Eles tinham sumido. Provavelmente estavam fazendo uma orgia satânica num quarto escuro que tinha que ser feita especificamente naquele horário e, por isso, não podiam atender ninguém. Se não for isso, só podiam estar fumando crack no banheiro. Claro. Se eu conseguisse encontrá-los e fotografar, poderia vender pra algum jornal, o que daria uma grande matéria. A manchete seria: "SERVIDORES PÚBLICOS SÃO PEGOS COMENDO CABEÇAS DE FETOS HUMANOS EM RITUAL SATÂNICO". Na matéria também teria como legenda na foto das drogas "Junto com eles foram encontradas cinquenta e sete pedras de crack".

Tive um lapso de atitude, atravessei o balcão e fui adentrando no cartório. Havia computadores ligados nas mesas. Olhei pro lado direito e vi um grupo de cinco caras de paletó e gravata com processos nas mãos discutindo algo baixinho. Continuei avançando, parei num bebedouro e bebi água. Na minha frente vi uma sala escrito "arquivo". Nela havia centenas de pastas que continham uma numeração e mais centenas de processos. "Bom, talvez aqui eu ache o que eu tô procurando", pensei. Comecei a procurar, mas no mesmo instante apareceu um funcionário.

- Doutor, o senhor não pode entrar aqui.
- Por que?
- Se o juiz te vê aqui, você nunca vai ganhar um processo com ele.
- Que piada.

Voltei pra fora do cartório, de frente ao balcão. Pelo menos havia um funcionário que não tava fazendo ritual satânico. Deve ser evangélico ou católico. Ou talvez não goste de cabeças de fetos humanos e prefira ratos. Vai ver não gosta de fumar crack com os colegas de trabalho e prefira fumar sozinho no mato. Ele estava atendendo no balcão "Número noventa e oito!", gritou. Um cara moreno foi até lá. "Acho que não vai dar tempo", pensei. Já eram cinco horas. Os cartórios fechavam às seis. Liguei pro escritório.

- Alô
- Oi.
- É Márcio. Tô avisando que talvez não dê pra ver o processo.
- Por que?
- Os funcionários sumiram.
- Tudo bem.
- Vou ficar mais meia hora aqui e depois caio fora.
- Certo.

Voltei pra trigésima vara cível.

Continua...

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Aventuras de um Estagiário - 1

Tinha aquela mulher. Uma senhora de seus quarenta anos. Mechas brancas num cabelo cacheado, com aspecto de mal-cuidado. O formato das sombrancelhas fazia com que ela parecesse estar sempre de mau-humor. Usava um par de óculos enormes de aro preto, grosso. Fumante. Sua voz era como a de uma gralha engasgada com farelos de cream cracker. Pois bem. Essa mulher odeia pessoas. Odeia sua vida. Odeia seu emprego de funcionária pública num cartório do maldito Fórum Ruy Barbosa. O que ela gosta mesmo é de dificultar a vida dos estagiários. Pobres-diabos. Nada que façam a fará feliz.

Era uma tarde de sexta-feira e eu tinha que fazer carga daquele processo. Era um cliente antigo do escritório. Tinha bastante dinheiro. Uma empresa. Um banco. Não darei mais detalhes. Só sei que eu tinha que ir lá, por as mãos naqueles autos e fotografar um parecer do Ministério Público. Era minha missão e não podia falhar.

Fui caminhando tranquilo em direção ao Elevador Lacerda. Tocava Bezerra da Silva numa loja de discos "sequestraram minha sogra, bem feito pro sequestrador / ao invés de pagar o resgate, foi ele quem me pagou...". Fiquei com essa música na cabeça cantarolando-a, enquanto me dirigia ao meu destino. Passei na banca "um retalho, por favor. Carlton. Isso. Obrigado", disse. Acendi e fiquei em pé na fila. Duas gringas atrás de mim conversavam em alguma língua. Uma das gringas era japa e a outra, uma loira do cabelo quase branco, mas da pele quase vermelha. Deduzi que falavam alemão. Ou finlandês. Decidi pelo finlandês. "Mas tem japas na Finlândia?", perguntei a mim mesmo. Mudei de idéia e fiquei no alemão. Elas falavam alemão. Certeza. Apaguei a ponta do cigarro no chão, entrei, paguei meus cinco centavos, e a fila se dividiu em duas. Uma pro lado de lá, outra pro lado de cá. As filas estavam grandes e na fila do meu lado dava pra ver umas garotas há uns dois metros de distância. Usavam farda de colégio público. Feinhas, mas uma delas se salvava. Tinha uns peitos enormes e duros, apontando pras pessoas. Olhei um pouco aquelas protuberâncias e depois desviei o olhar pro meu lado esquerdo. Tinha um cara de sandália e bermuda jeans e camiseta, ombros peludos, olhando com lascívia praquela garota - palosamente. Fingi que não vi nada. Ainda dei, discretamente, uns dois saques rápidos nos peitos dela. Eram bonitos, realmente. O cara não tava se segurando. Gozaria nas calças só de pensar em comê-la. Entrei no elevador lotado. Cerca de quinze pessoas indo pros seus destinos na cidade alta. Saí, dei um saque na Baía de Todos os Santos só pra não perder o visual, e segui rumo ao Fórum.

"Ah, o Fórum. Um lugar onde meu bom humor se sobrepõe a todas as bizarrices", pensei. Mas peraí. Eu não vou pro Fórum. Lembrei. Esqueçam a mulher do primeiro parágrafo. Ela só vai aparecer depois. Primeiro deveria ir ao shopping Baixa dos Sapateiros. Era lá que a ação corria. Lá na trigésima vara cível. Sim. Era lá que eu deveria tirar as fotos do parecer do Ministério Público.

Cheguei no shopping. Dentro desse shopping funcionam três varas cíveis: a vigésima nona; a trigésima; a trigésima primeira; a vigésima oitava. Bem, na verdade são quatro. Duas no primeiro andar, duas no térreo. A trigésima fica no primeiro andar, bem como a trigésima primeira. As outras são no térreo. Meu destino era a trigésima e lá estava ela. Na entrada, no letreiro em cima da porta, tem escrito: "2º VARA DAS RELAÇÕES DE CONSUMO". É aqui. Eu já sabia que aquela não era a segunda vara das relações de consumo, mas a trigésima. Eles fizeram assim pra enganar os desavisados: pequenos estagiários do segundo semestre que não sabem fazer uma inicial, mas sabem que onze de agosto é o dia do pendura - onde, diz a tradição, estudantes de direito dão calotes nos restaurantes da cidade. Na verdade, toda essa enganação faz parte da grande confusão que é o Judiciário baiano; um grande mosaico de um mundo fantástico e surreal no qual os processos se perdem no buraco negro dos armários dos cartórios, oficiais de justiça andam em carrões e velhas que não são comidas há trinta anos tentam se colocar numa posição de superioridade.

Entrei no cartório.

Continua...

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Piada boa


Comentários-Xeque:

1. Blasfêmia.

2. Tráfico sempre vem acompanhado de erros de português. (Apesar da maioria dos papéis endolados com maconha sejam de livros escolares -geralmente questões resolvidas de matemática ou química)

3. Todos já notaram que Uziel Bueno, antigo repórter de rua de outros programas da mesma emissora, passou a usar ombreiras e falar rouco de propósito?
Assim qualquer pessoa pode parecer um delegado revoltado que não conhece as leis, muito menos de jornalismo, mas que continua apresentando um programa na televisão.






Links:
http://uzielbueno.blogspot.com/
http://www.ggb.org.br/imagens/CARTA_ABERTA_NA_MIRA.pdf
http://www.bahiadiadia.com.br/news.php?item.91.20
http://www.portaisdamoda.com.br/noticiaInt_detalhes~id~19020~fot~6~n~sutia+com+ombreira+da+hope.htm

Bar Bagana

Clique na imagem para ampliar


Certo, a polícia estava rondando o quarteirão à procura de alguma espécie de bar fora das leis e escolhe justamente o de nome BAGANA, que, somente por acaso, possuía máquinas de caça-níqueis (ilegais). Qual a probabilidade de um bar com esse nome estar com pelo menos alguma coisa irregular? Mais paloso que isso só um bar chamado "Fritação", e olhe lá, porque pode ser simplesmente um bar que venda frituras. Que tipo de petiscos são vendidos num bar chamado BAGANA?

Ainda doidão da bagana, o dono não se abalou e comemorou a sua vitória intelectual diante dos policiais, confirmando que a idéia da passagem secreta para as máquinas era inteiramente dele. Um gênio que deverá ser lembrado por todos como um revolucionário rebelde e doidão.


Amor?

Eu acredito que não foi muito difícil para os policiais acharem essa. Era o único bar barrunfado na região e seu dono, Mr. Rastafari Roots Reggae, era o único cara com dread locks do bairro.





Links:
http://www.dicionarioinformal.com.br/buscar.php?palavra=bagana
http://www.pm.sc.gov.br/website/clipagem/clipagem.php?d=1&m=4&y=2009
http://www.stylofm.com.br/noticias-da-stylo/geladeira-era-usada-como-passagem-secreta-para-sala-de-jogos-clandestina-em-bar-de-sc
http://ideiacheque.blogspot.com/2008/09/vulcano-bagana.html