segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

A lógica evolucionária da localização geográfica dos primos

Da mesma maneira que um menino da roça não entende como funciona o elevador do prédio em que moram os seus primos da cidade, o menino da cidade não consegue compreender a logística banal de subidas em árvores de diversas espécies e para diversos fins.

Hoje, sentado no play do prédio de um amigo (eu era o menino do Mega Drive, não das árvores; da invasão do salão de festas, não do roubo das pêras do vizinho bigodudo e conservador) recebi uma visita surpresa de um percevejo, que, fofo e gracioso, posou no meu cabelo como se caísse num colchão macio de pura alegria contagiante.

Fora da Discovery, meus reflexos de primata lançaram minha mão esquerda para retirada daquele que seria o predador desgraçado derrubando-o no chão. E eu pisaria naquele inseto maldito para estraçalhar sua pequena carapuça verde bizarra se ele fosse ao menos um pouco perigoso... Talvez...

Interrompendo meu momento filosófico, o amigo ao meu lado negou a opção da violência, alegando que o percevejo morto ia feder demais. Claro, ia mesmo. Incrível como a lógica da selva funcionou na cidade dessa vez.

No mato, o gracioso percevejo verde sobrevoa as plantas tranquilamente enquanto planeja o próximo passo de sua vida longa e proveitosa. Caso um animal um pouco maior tente comê-lo, sentirá aquele cheiro de desgraça, aquele cheiro que você não colocaria na boca nem bêbado numa aposta de bar. O animal dificilmente comeria o percevejo ou então o comeria e iria se lembrar daquele prato como o pior de sua vida, poupando todos os familiares e companheiros de vida do percevejo que serviu de bode expiatório, herói de uma causa. 

Na cidade, o humano deixou de pisar naquele percevejo predador por conta de uma mera vaidade, de uma mera falta de vontade de sentir o odor alheio, por mera frescura. Porém, em todos os outros 100 casos, os humanos mataram os percevejos impiedosamente, concordando com a lógica evolucionária da localização geográfica dos primos.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Freddie Prateado

O problema de andar 99% do seu tempo substanciado, é que às vezes a realidade parece mais doidona do que sua mais intensa lombra. 



"Eu quero muito ouvir o disco do Freddie Prateado, ouvir seus maravilhosos convidados cantarem e ainda ver as fotos da gravação!"
- Pensaria alguém ao ler o título da notícia. (cabe uma interrogação aqui)





quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Sobre o trabalho e a ressaca humana



Gosto daquela parte de A Revolução dos Bichos quando o porco ditador bandido Napoleão entra numa cachaçada com seus boys e acaba arrebentado na manhã seguinte.

A cabeça em chamas era extrema demais e o puro sabor de desgraça misturada com cerveja estragada e cigarro Rei V falsificado estavam lá, além da ressaca moral ditatorial que é naturalmente tão mais intensa que as outras e se fazia presente também. Logo os outros porcos assumiram que seu líder havia morrido. O ardor ocular ao ver luzes fortes, a barriga em dor profunda, a vontade de defecar e a moleza física deste membro renegado, além do notável desejo de não sair da cama e a falta de apetite revelam para aquele indivíduo que bebeu demais que sua vida chegara ao fim.

Imagino que o primeiro trabalhador que caiu numa ressaca cometeu o erro de pensar estar morrendo: ligou pro chefe alegando que já tinha vomitado quatro vezes aquela manhã e se cagado todo umas duas vezes, e então estava morrendo, mesmo. Xingou o chefe de "putinha" e explicou para ele que não voltaria mais ao trabalho de bandido vendido e considerou sua eterna liberdade espiritual, já que a liberdade física já havia sido tomada pelo seu labor sanguessuga e a liberdade do corpo estava toda cagada e com cheiro de morte.

Morri, chefe, morri. Minha cabeça está em chamas e meu coração não mais pertence às entranhas de sua verdade econômica. Jogue-se nas chamas do inferno e lembre-se que todos os trabalhadores que aí estiveram não continuaram por vontade de agradá-lo e sim pela necessidade de moedas para o sagrado pão diário. E destas moedas alguns retiram o elixir da vida e o bebem com tanta vontade de encontro com a verdade que a própria bebida suga sua essência e clama por um novo caminho: a inexistência.

Essas foram as primeiras frases ditas ao chefe por parte do trabalhador experiente no cumprimento de tarefas e inexperiente no alcoolismo insociável, até ele cagar mais umas duas vezes e conseguir comer o pão diário de ontem com um copo de água, lá perto das duas da tarde, o que cortaria sua ressaca e o traria de volta à empolgante chama da vida.




Links:
O cigarro REI V não possui site oficial.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Cada um com seu estilo



O verdadeiro Banco do Brasil Estilo:


1. Produtos e serviços diferenciados: 
Uma gostosa de biquini te atende enquanto uma oriental faz carinho em seu cabelo e seu petisco favorito (com direito a limão e pimenta) é oferecido. E você ainda tem o direito de recusar caso não queira o petisco.

2. Equipe de profissionais capacitados:
Além da gostosa, os outros membros da equipe são seus amigos sentados numa mesa cheia de cerveja e alegria, um peru assado na mesa e 55 pacotes de salame já abertos, além de um poster de alguma banda -à sua preferência-. Você tem o direito de rasgar o pôster e pedir para que qualquer amigo que você considere incapacitado (panaca) saia da mesa ou morrerá.

3. Máximo de conforto e sofisticação:
A agência é na praia.
Você tem a opção de mudar a agência pro clube, boteco ou praça à sua escolha.






O grande problema é aquele velho lance esperto do empreendorismo. O usuário (sim, estamos falando de outro tipo de usuário nesse post) Prêmio tem direito às regalias, objetos/situações/ambientes que o usuário Grátis não tem.

E tudo o que você precisa fazer para se tornar um usuário Prêmio é ter bastante estilo. É estilo pra se fuder. Estilo de manhã, estilo de dia, estilo de smoking na praia e charuto cubano nos bolsos do paletó, estilo nos olhos, no cabelo, carteira, ânus e dentes. Estilo ao comer putas no carrão, estilo ao bater aquele barrão no mar, estilo para dançar pelado. É estilo. Poucos tem, muitos o querem.
 
E quem não quer pode pegar a fila e fazer seus downloads com metade da velocidade. Cada um com seu estilo: ou você é prêmio ou é grátis.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Empreendedorismo aplicado aos downloads gratuitos

Se você já viu a imagem abaixo, com certeza já se sentiu o sabor da revolta virtual moderna:


Suas opções enquanto jovem downloader: ser o perdedor, adepto da conta GRÁTIS, ou ser o vencedor da super velocidade e tratamento especial Prêmio.




Quase uma propaganda de cerveja, refrigerante ou pasta de dentes (por mais surreal que pareça), eles querem que você seja descolado, vencedor, primeiro, líder, especial, bonito, interessante, intrigante, jovem e, claro, investidor. Assim como os bancos, eles querem que você seja o cliente Estilo que é atendido na sala estilosa com ar-condicionado gelado e gostosa na mesa (ou ar-condicionado gostoso e uma gelada na mesa), diferente dos não tão bem atendidos pegadores de fila da sala ao lado.

E é por isso que eu me estresso no banco ou fazendo downloads gratuitos.
Obrigado.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Sobre o consumo e todo aquele papo repetitivo (que não custa repetir) de redução de danos

Numa festa do tipo universitária eu dou umas tragadas e um maluco me pede um cigarro:

- Tem um irmão desse aí?
- Tô com conjuntivite.
- Súper justo. Acho súper justo pegar essa conjuntivite.

Realmente eu tava com conjuntivite, mas mesmo assim lhe dei o cigarro. O cara nem olhou pro meu olho. Eu podia ter uma doença pior e o cara não ia tá nem aí. Na real a galera que é muito doida compartilha baseados e substâncias com todo tipo de gente desconhecida e não liga se o outro tem aids ou não. A chapação em primeiro lugar.

É claro que ninguém vai ficar andando por aí com sua própria piteira. Imagine, toda vez que a bola chegar no sujeito, ele colocar a piteira pra fumar pra não pegar uma infecção. No caso da cafungada é diferente, é bom ter seu próprio canudo sempre.

Assim como dizem na TV pra trepar só com camisinha, deviam dizer pra se drogar com cuidado. O discurso da igreja católica é que o sexo serve exclusivamente para a reprodução sem levar em conta que não é. Assim dizem que a abstinência é o melhor meio de prevenir doenças.

O discurso na TV é o do diga não às drogas sem levar em conta que os humanos nunca vão parar de usar drogas. Por isso pregam que a abstinência é a maneira mais eficaz de prevenir doenças.

A galera precisa rever os métodos de persuasão e de prevenção.

Um cheiro.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Drogadinha Lésbica

Resolvi fazer o retrato de uma membro da tribo urbana das Drogadinhas Lésbicas - esteriótipo há algum tempo observado na pós-modernidade soteropolitana. Costuma orbitar o Rio Vermelho nos finais de semana e frequentar (os também pós-modernos) bailinhos de música indie que acontecem por aí periodicamente.