Tinha aquela mulher. Uma senhora de seus quarenta anos. Mechas brancas num cabelo cacheado, com aspecto de mal-cuidado. O formato das sombrancelhas fazia com que ela parecesse estar sempre de mau-humor. Usava um par de óculos enormes de aro preto, grosso. Fumante. Sua voz era como a de uma gralha engasgada com farelos de cream cracker. Pois bem. Essa mulher odeia pessoas. Odeia sua vida. Odeia seu emprego de funcionária pública num cartório do maldito Fórum Ruy Barbosa. O que ela gosta mesmo é de dificultar a vida dos estagiários. Pobres-diabos. Nada que façam a fará feliz.
Era uma tarde de sexta-feira e eu tinha que fazer carga daquele processo. Era um cliente antigo do escritório. Tinha bastante dinheiro. Uma empresa. Um banco. Não darei mais detalhes. Só sei que eu tinha que ir lá, por as mãos naqueles autos e fotografar um parecer do Ministério Público. Era minha missão e não podia falhar.
Fui caminhando tranquilo em direção ao Elevador Lacerda. Tocava Bezerra da Silva numa loja de discos "sequestraram minha sogra, bem feito pro sequestrador / ao invés de pagar o resgate, foi ele quem me pagou...". Fiquei com essa música na cabeça cantarolando-a, enquanto me dirigia ao meu destino. Passei na banca "um retalho, por favor. Carlton. Isso. Obrigado", disse. Acendi e fiquei em pé na fila. Duas gringas atrás de mim conversavam em alguma língua. Uma das gringas era japa e a outra, uma loira do cabelo quase branco, mas da pele quase vermelha. Deduzi que falavam alemão. Ou finlandês. Decidi pelo finlandês. "Mas tem japas na Finlândia?", perguntei a mim mesmo. Mudei de idéia e fiquei no alemão. Elas falavam alemão. Certeza. Apaguei a ponta do cigarro no chão, entrei, paguei meus cinco centavos, e a fila se dividiu em duas. Uma pro lado de lá, outra pro lado de cá. As filas estavam grandes e na fila do meu lado dava pra ver umas garotas há uns dois metros de distância. Usavam farda de colégio público. Feinhas, mas uma delas se salvava. Tinha uns peitos enormes e duros, apontando pras pessoas. Olhei um pouco aquelas protuberâncias e depois desviei o olhar pro meu lado esquerdo. Tinha um cara de sandália e bermuda jeans e camiseta, ombros peludos, olhando com lascívia praquela garota - palosamente. Fingi que não vi nada. Ainda dei, discretamente, uns dois saques rápidos nos peitos dela. Eram bonitos, realmente. O cara não tava se segurando. Gozaria nas calças só de pensar em comê-la. Entrei no elevador lotado. Cerca de quinze pessoas indo pros seus destinos na cidade alta. Saí, dei um saque na Baía de Todos os Santos só pra não perder o visual, e segui rumo ao Fórum.
"Ah, o Fórum. Um lugar onde meu bom humor se sobrepõe a todas as bizarrices", pensei. Mas peraí. Eu não vou pro Fórum. Lembrei. Esqueçam a mulher do primeiro parágrafo. Ela só vai aparecer depois. Primeiro deveria ir ao shopping Baixa dos Sapateiros. Era lá que a ação corria. Lá na trigésima vara cível. Sim. Era lá que eu deveria tirar as fotos do parecer do Ministério Público.
Cheguei no shopping. Dentro desse shopping funcionam três varas cíveis: a vigésima nona; a trigésima; a trigésima primeira; a vigésima oitava. Bem, na verdade são quatro. Duas no primeiro andar, duas no térreo. A trigésima fica no primeiro andar, bem como a trigésima primeira. As outras são no térreo. Meu destino era a trigésima e lá estava ela. Na entrada, no letreiro em cima da porta, tem escrito: "2º VARA DAS RELAÇÕES DE CONSUMO". É aqui. Eu já sabia que aquela não era a segunda vara das relações de consumo, mas a trigésima. Eles fizeram assim pra enganar os desavisados: pequenos estagiários do segundo semestre que não sabem fazer uma inicial, mas sabem que onze de agosto é o dia do pendura - onde, diz a tradição, estudantes de direito dão calotes nos restaurantes da cidade. Na verdade, toda essa enganação faz parte da grande confusão que é o Judiciário baiano; um grande mosaico de um mundo fantástico e surreal no qual os processos se perdem no buraco negro dos armários dos cartórios, oficiais de justiça andam em carrões e velhas que não são comidas há trinta anos tentam se colocar numa posição de superioridade.
Entrei no cartório.
Continua...
5 comentários:
tá bala o post, mas se lembre que aqui não é o "Algo de Cretino" não, então escreva igual a macho hUIHIUHEiou
"Feinhas, mas uma delas se salvava. Tinha uns peitos enormes e duros, apontando pras pessoas." eIUHIOEUEheUeHioueHoiehe difudÊ! fiquei imaginando aqui
Porra, tiozinho do elevador taradão!
Até parece que nunca mamou ¬¬'
Porra, essas coisas de varas cíveis, fóruns e cartório sempre me fazem lembrar do processo de kafka, parece que ninguém sabe direito o que está fazendo...talvez os estagiários saibam...
Chega deu vontade de NUNCA estagiar. Viva a paleta!!! huahuah tá bala.
porra, brocation.
decente memo
;)
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