Conversávamos e bebíamos.
- Marta chegou ontem do Amazonas. Disse que numa tribo indígena que ela visitou era costume sacrificar recém-nascidos com deficiência, assim como os espartanos faziam. - disse Alcides.
- Quem é Marta mesmo? - perguntei.
- É minha irmã, porra, a do meio, que é missionária.
- Vou lhe fazer uma pergunta. Não fique com raiva.
- Não vou ficar.
- O que ela faria se um índio dessa mesma tribo tocasse a campainha da casa dela e tentasse convencê-la de que criar esses bebês é errado...
- Sei lá, porra. Isso não faz sentido.
- ... fosse morar alguns dias na rua dela e dissesse a ela que tudo o que ela acredita é mentira? São outros valores. Pra eles aquilo é certo, quem é ela pra julgar? - continuei.
- Meu velho, eles matam recém-nascidos. Você acha isso certo?
- Não, mas se eles acham e já vivem assim, suponho, há mais de centena de anos, é muita presunção da sua irmã querer mudar isso.
- Bom, foda-se. Acho que ela está salvando vidas.
Paramos de falar. Já estava quase amanhecendo. Restaram alguns questionamentos, idéias boas e ruins. Eu me questionava, por exemplo, se a posição que defendia não refletia algo negativo do meu caráter. Bom, era de fato algo que realmente acreditava. Acontece que ao mesmo tempo que achava errado que aqueles indivíduos sacrificassem suas crianças, também achava errado que alguém se colocasse em posição de julgá-los. Era uma conflito mental. Depois de um tempo disse-lhe:
- Só tenho certeza de uma coisa.
- O que?
- Nunca vou sair na rua defendendo o direito deles ao infanticídio.
- Velho, eu te digo uma coisa, na antiguidade tudo bem, em Esparta, povo guerreiro, tudo mais, mas hoje em dia é inconcebível isso.
- Pode ser.
- Vou nessa, tenho aula daqui a pouco.
- Falou.
Ainda bebi duas cervejas antes de ir deitar.
Um comentário:
Só a gente sentando num bar pra discutir sobre, mas sempre ressalto que até nesses casos cabe dizer que: Cada um tem seu estilo.
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