Era uma quinta-feira, de tardinha. Arrumávamo-nos pra sair.
- Porra, bote uma roupa mais bonita.
- Que nada, tá bom assim.
- Coloque um tênis, pelo menos.
- Porra, você é foda. Pronto.
- Vamo nessa.
Apressadamente saímos os três.
- Esqueci o boné. - falei.
- Ah, agora já era.
Ficamos chapando o côco na praia. Cachaça e maconha naquele Jardim de Alá. Apelidamos o lugar de redemoinho gay. Os carros ficavam ali estacionados com pessoas fudendo, usando drogas. Tarados, psicopatas, travecos, traficantes.
Permanecemos de saque no movimento durante alguns minutos.
- Ali, aquele Corsa preto. - disse o parceiro.
Saímos do meio do mato. O camarada sacou o trinta e dois e meteu. Era um coroa viadão. Levamos tudo do cara, menos a roupa do corpo. Saímos de rolê. Operação bem sucedida. Carteira recheada de notas de cinquenta e vários cartões. Acho que tinha uns trezentos reais. Tocava um CD de Caetano Veloso no som do maluco.
- Coloca na rádio, porra. - eu disse.
Eu não tava armado dessa vez. Era minha primeira vez. Empolgação da porra. Rumamos pelo Costa Azul em direção ao Stiep. Vimos dois playboys encostados no carro, de bobeira numa pracinha. Descemos e metemos. Minha função era fazer a pilhagem. Meti mão nos bolsos, puxei carteira, chave, papel, a porra toda. Até uma seda o pau no cu me deu, mas acabou que a gente nem deu tanta atenção, porque tinha um isopor cheio de cerveja. Ila! Na hora de ir embora aproveitei e roubei o boné que o maluco tava usando. Pontos negativos: vacilamos de não levar a maconha dos otários, pouca grana, trinta conto de um, o outro zerado. Pontos positivos: ganhamos cerveja e eu bafei uma guepa estilosa.
Pegamos a Paralela, tava rolando show numa casa de eventos lá. Movimento enorme de gente tomando o rumo de casa, indo buscar seus carros estacionados no canteiro entre as duas vias da avenida. Estacionamos nesse lugar e ficamos observando.
- Vamo fazer essa função no speed. - disse o parceiro, enquanto tirava uma petequinha do bolso.
- Eu nunca cheirei. - eu disse.
- Então vai cheirar agora. - falou o brother que tava armado.
- Se o pivete não quiser cheirar ele não cheira. - disse o outro.
- Eu quero. - falei.
Colocaram uma carreira gorda pra mim. Aquela porra desceu rasgando a minha narina. Aspirei com toda a vontade. Tinha acabado de roubar, dar um teco seria brincadeira aquela noite. Com a cabeça a mil, colocaram a arma em minha mão.
- Vá lá, agora é sua vez.
Vinha um playboy e a sua namorada. Nem contei conversa. Andei na direção deles com o revólver preso na bermuda e esbarrei no cara. Ele veio tirar braba comigo, puxei a arma na mesma hora. Ele levantou os braços.
- Abaixe essa desgraça desse braço!
Os caras vieram logo em seguida fazendo a limpa nos dois. Olhei ao redor e vi que tinha algumas pessoas. Não sei se elas viram, mas pareciam agir como se nada estivesse acontecendo. Ninguém fez nenhum movimento que eu julgasse perigoso pra mim. Eu sabia que naquele revólver tinham duas balas, mas apesar de ter perdido o cabaço do assalto e do pó, não queria (não naquele momento) saber qual o gosto de matar. Enfim, mais uma operação bem sucedida. Não lembro quanto eles tinham, mas era pouca grana. A menina só fazia chorar, coitada.
Depois dessa fomos a um posto de gasolina perto de nossa área. Ficamos bebendo e cheirando até de manhã.
Depois dessa noite só colei mais três vezes pra fazer esse esquema. Todas saí sem nenhum arranhão. A próxima já falei que será a última e adeus vida do crime. A adrenalina é empolgante, mas sei que numa dessa eu posso morrer ou ir preso. Preciso tomar um rumo, arrumar um emprego, estudar.
Um comentário:
Excelente relato da vida de um bruxoso.
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