segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Fazendo o que normalmente não se teria coragem de fazer

Éramos eu, Big e Diegão. Acordamos cedo. Saímos às sete. Meia hora depois estávamos na fila do ferry boat. Precisávamos pegar o ferry das dez e meia para chegarmos em Bom Despacho às onze e meia, pois de lá pegaríamos o ônibus das onze e quarenta para Itacaré, cujas passagens já estavam em mãos.

A fila para comprar passagem estava enorme. Logo quando saímos do carro, um sujeito nos propôs um lugar na frente da fila que ele tinha guardado. Dissemos que não queríamos. Ficamos cerca de uma hora e meia na fila e não andamos nada. Perguntei a um funcionário se conseguiria pegar o ferry das dez e meia. Ele disse que não sabia. Comecei a ficar preocupado se conseguiríamos chegar a tempo de pegar o ônibus.

Mais uma hora e nada. Cogitamos a idéia de conversar com o sujeito que oferecia um lugar na frente. Diegão foi contra, Big a favor. Era período de fim de ano e milhares de pessoas estavam indo para Itaparica. Na fila as pessoas carregavam seus ventiladores, colchões, passarinhos. Muitos bebiam. Crianças correndo e chorando de um lado pro outro. Fazia muito calor e o clima estava abafado.

O desespero fez com que eu falasse para Big ir ver se o cara que colocava as pessoas na frente da fila ainda estava lá. Big é um sujeito peculiar. Grandalhão e desengonçado, brigão e falante. Depois de uns cinco minutos ele voltou com o cara. Big deixou a mochila dele de trezentos quilos com a gente - por sinal já tínhamos uma bagagem considerável - e foi seguindo o cara fila adentro. Depois de cerca de uns dez minutos ele me telefonou, dizendo que já estava lá dentro, na bilheteria, com bilhete na mão, e que eu desse a grana do cara. O cara apareceu pouco depois. Pegamos toda a bagagem e fomos passando pelas pessoas. "Toda hora esse cara passa com alguém!", um garoto disse. Levávamos colchões, barracas, toalhas, comida, um cavaquinho, várias tralhas.

O nosso novo amigo não tinha a aparência das mais confiáveis, mas incrivelmente estávamos bem próximos do portão que nos levaria para outra fila, que depois nos levaria à fila da bilheteria, que depois nos levaria a um salão onde todos ficam amontoados esperando se abrir o portão que dá acesso ao ferryboat.

A fila, na região na frente, era desordenada. Não dava pra saber direito quem estava na frente ou atrás de quem. Cada um levava seus objetos, sua bagagem, e os amontoava ali. Dois funcionários iam liberando as pessoas aos poucos e os primeiros que estivessem encostados na grade eram mandados para outro setor, para o fim de outra fila, mais à frente, depois de um intervalo entre duas grades de ferro.

Só existe uma empresa que faz esse trajeto de ferry boat e eles não parecem se preocupar com a situação dos usuários de seu serviço. Big estava lá dentro nos esperando e já eram dez horas. Fomos desastradamente carregando toda a bagagem (a nossa e a de Big) atravessando as pessoas até a grade que dá acesso à outra fila. Pedimos pro funcionário abrir para passarmos, porque tínhamos hora marcada e que nosso amigo estava lá dentro com nossos bilhetes e precisávamos entrar logo ou perderíamos o ferry. Ele abriu e nos deixou passar, mas disse que não se vende hora marcada na bilheteria. Ficamos com cara de bunda e as pessoas da fila perceberam o que estávamos fazendo. Voltamos para a fila. Dessa vez, próximos à grade. Entraríamos na próxima leva, mas os olhares eram de hostilidade. Peguei o celular pra tirar de tempo e liguei pra Big pra explicar a situação. Ficamos ali.

"Mais quinze!", falaram no rádio do funcionário. Ele liberou a passagem. "Eles estão furando fila!", gritou uma garota. Fomos andando normalmente, com todas as coisas pesadas penduradas pelo corpo. Por alguma razão o funcionário não deu ouvidos e passamos.

Na nova fila dava pra avistar Big dentro do galpão onde havia as bilheterias. Furamos a fila do ferry.

Um comentário:

divagando idéias disse...

A máfia do ferry boate... Seria esse um ótimo título. haihaihiauuah
fiquei curiosa e li até o final, muito bom!!

BJO