sábado, 22 de maio de 2010

Seu Ronival

Era uma terça. Como estudava à noite resolvi sair pra beber depois da aula. Fui num bar perto de casa. No caminho - como usual - viajava nas pessoas dentro do busu, cada um seguindo seu caminho, seu destino, voltando do trabalho, das obrigações, indo cada um pro seu abrigo onde algum familiar estaria lhe esperando com um prato de comida e um banho ou nada disso. O que importa é que eu estava em direção a um copo gelado de cerveja na absoluta vontade de, uma vez entorpecido, viver alguma coisa inesperada, uma aventura ou nada disso também.


"Uma Antarctica, na moral, brother.", falei pro garçom e notei na mesa, também bebendo sozinho, o zelador do meu prédio, Seu Ronival. Seu Ronival era um coroa zarolho (na verdade o olho dele é estilo caranguejo), baixinho, poucos dentes na boca (alguns pretos), exalava naturalmente cheiro característico de quem trabalhou manualmente durante muitas horas ao dia. Fiz um legal pra ele. Ele retribuiu e, com um aceno, me convidou pra sentar consigo. "E aí, Seu Ronival". Ficamos bebendo e conversando naquele butiquim.

- Semana passada lasquei uma puta - ele disse.
- Certo você. Nunca mais fiz isso.
- Escute. Ela queria me cobrar cinquenta conto, eu falei "só tenho vinte". Ela falou cinquenta, eu disse vinte e sete. Ela perguntou se eu tava brincando, mandou eu me olhar no espelho e olhar no olho dela e dizer se ela tinha cara de que merecia vinte e sete numa foda comigo.
- Ela era decente?
- Era. Só era meio coroa, mas era gostosa. Só sei que eu bati o pé dizendo que era vinte e sete. Isso era umas quatro da manhã, já. Ela olhou ao redor, viu que não tinha ninguém, olhou a hora no relógio e disse que vinte e sete era só pra eu chupar a buceta dela. Eu falei "por mim pode ser". A gente tava ali antes do antigo Português, ali na orla. Descemos pra areia, encostamos na parede, ela só fez levantar a saia e eu caí de língua, com gosto. Chupei de ficar com a língua cansada, o mel dela escorrendo pela minha boca. Eu sou rápido com a língua. Ó pra isso - disse e sacudiu a língua grande, larga, com uma mancha roxa de sei lá o que; continuou - rapaz, não deu nem meia hora a miserável tava gozando, pedindo mais. Nessa hora eu botei o pau pra fora e mandei ela chupar. "Agora é sua vez. Chupe essa caceta, vá, sua vagabunda.". Ela mamou e eu ficava repetindo "vinte e sete só uma chupada, né? descarada...".
- Misssserável. Meteu? Comeu cu?
- Porra, não. Gozei com o boquete dela. Já tava cansado cuma porra, bêbo. O dia tava amanhecendo. Olhei pra cara dela toda melada e abri a carteira na frente dela. Não tinha nada! Ela também não me xingou, nem puxou revólver. Se ajeitou de novo, retocou a maquiagem e não olhou mais na minha cara. Ela foi prum lado eu fui pro outro - falou com um sorriso descarado no rosto.
- Porra é essa?
- Você tem que aprender comigo, rapaz.
- Essa história tá na cara que é mentira.
- Tô lhe falando.

Tava na cara que era mentira, mas eu fiquei de boa. Acendi um cigarro e fiquei viajando naquele cara psico chupando a buceta de uma puta na orla. Na real, talvez ele tenha pagado até mais do que vinte e sete reais. Talvez ele tenha, de fato, pagado os vinte e sete reais. O que importa é que tanto ele quanto ela saíram satisfeitos naquela madrugada.

Depois de ouvir essa história ainda bebi pra caralho e no dia seguinte, de ressaca, eu não sabia se eu tinha sonhado ou se o maluco me contou mermo. Na quarta-feira, quando ele tava recolhendo o lixo, eu me bati com ele no corredor. Como ambos estávamos com pressa ele só deu uma piscadinha e um sorriso pra mim. Acabou que eu terminei contando o caso dele aqui.


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