quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Festa de Largo

Quem é baiano sabe: festa de largo é um belo motivo para “tomar uma”. Para outros nem tanto, pois qualquer ocasião é ocasião pra chapar o globo.

Era dia de festa no Bonfim: para uns Bonfim Light, para outros Bonfim gorduroso. Para mim, foi o segundo.

Combinei com um parceiro de nos encontrarmos num bairro burguês da cidade, para de lá descermos para o Campo Grande e seguir pela Av. Contorno. Todos conhecem esse referido bairro burguês, famoso por sua violência suave, uma violência dominada por periculosos que aplicam 157 à luz do dia no local; um bairro totalmente imoral à noite com travecos comandando cada esquina.

Como combinado, descemos no Campo Grande e seguimos pela Av. Contorno calibrando a mente com latões anunciados em placas publicitárias geniais que desafiam a matemática: “3 é 5”. O bom cachaceiro identifica rapidamente, digo imediatamente, a grande oportunidade que está por trás daquele apelo publicitário. São os bons e velhos 3 latões pelo justo valor de R$ 5,00.

Chegando no comércio brincamos atrás de uns blocos de samba e logo encontramos conhecidos. Lá estavam os jovens apreciando o famigerado whisky com Red Bull (Mad Dog). Trata-se de uma combinação perigosa e não se esqueçam: álcool “aprecie com moderação”.

Um tempo já se passara naquele dia de folia tão famoso em nossa terra. Um dia que saúda nosso grande salvador, mas a maioria das pessoas (99,99999%) não estão nem aí pra isso. Um amigo avisa que está chegando; não demora muito tempo e ele bota a presença, literalmente. Não demorou muito para estarmos com a mente defumada. Já era noite no comércio e a brisa nos permitia tecer comentários sociológicos acerca das “festas populares”, nada muito diferente dos clichês (exploração social e blábláblá) alertados por jovens politizados.

Vai ficando mais tarde e aquela vontade de renovação da onda vai aumentando. Aí que avistamos a praia; para nós o local perfeito para a re-carburação. O solo da praia era peculiar, totalmente coberto por pedras, diga-se de passagem, pedra de verdade, não as facilmente encontradas nessa região da cidade. Além de muitas pedras, tinham muitos ganjeiros esbanjando toda sua patcharosidade de forma destemida. A pala era imensa! Imensa! Devia ter uns 100 juvenis curtindo a onda na praia e nós fazíamos parte desse grupo. Não demorou para os gambés sentiram a marofa e enquadarem todo mundo. Não tinha pra onde correr; só deu tempo pro mais sagaz da roda andar até o mar, dar mais uns pegas e dispensar a guimba.

Todos de mão pra cima na praia. Parecia o Relógio de São Pedro no carnaval quando o Fantasmão passa.

- Acho melhor dizer quem tá portando, se não vou levar todo mundo! -
esbravejou o cana com seu migué peculiar.

O sentimento fraternal canábico se ouriçara naquele momento e todos permaneceram calados.

- Se tem flagrante me dá logo. Se eu achar é pior. (Essa é clássica). - sussurraram os policiais no ouvido de cada paloso que ali estava.

Mexe daqui, mexe de lá e nada foi achado comigo. Eu observava meu parceiro suando frio, cada bolso era minuciosamente revistado. Não sei como não encontraram o barro que ele ainda portava, pequena quantidade, mas havia.

Sobrou para um gordinho que parecia sofrer da síndrome da patcharose. Acharam seu flagrante e no melhor estilo BOPE esbravejaram cuspindo na cara dele: “AQUI É ROTAMO, PORRA!”

Depois dessa, optamos por descansar um pouco no meio fio, no estilo bêbado em fim de festa. Subimos a Contorno, tomamos as saideiras no Passeio Público e cada um tomou o rumo de seu lar.

Já se foi o tempo que dava pra curtir de boa uma “festa de largo”.


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TEXTO ESCRITO PELO COLABORADOR LEWIS HAMILTON

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