Antagônicos desde suas origens,
efeito e estilo compreendem diferentes ideais de vida. Alguns
preferem viver o efeito, outros o estilo. Comecei a pensar nisso quando
conversava com um casal de amigos sobre um possível café pós-fumo. Aqueles que
se toma para reavivar a chama interior quando o fumo superior acaba superando
esta em muito. Papo complexo, mas onda real.
Após um almoço pesado e um dia de
trabalhador, nada melhor do que um copo de café. Já havíamos conversado sobre o
café há muitos minutos e naquele momento o que imperava era a necessidade de
livrar nossas almas do cansaço e da pestilência. Nunca cairíamos nos braços da
ardilosa procrastinação humana, então sem dúvidas necessitávamos de um coffee
para voltarmos a produzir.
Voltarmos a terra onde tudo é produzido o tempo
todo. Ah, a terra da produtividade, onde os homens se encontram bem
arrumados, empregados, de óculos, anel, celular, sorriso e seriedade, tudo em
uma só embalagem. É incrível.
A minha genial reflexão sobre a
produtividade e o mundo humano foi interrompida abruptamente por uma sutil
colocação: “A gente podia tomar café no Fran's Café!”, disse a garota do casal.
Eu fiquei em choque. “Fran's Café? Um lugar especializado em café? Seria especializado em café ou em estilo?”
Pensei comigo mesmo, sem expor inicialmente meu ódio àquela sentença.
Durante todos aqueles 6 minutos de
conversa que tivemos sobre o café, só consegui me imaginar sentado meio largado
numa mesa de um bar fuleiro ou numa padaria bem vagabunda de esquina. No
máximo, me imaginaria na mesa com minha mãe após o jantar, mas eu estaria da
mesma forma: largado e vadio. Eu não consegui associar de imediato a ideia de
“tomar um café” à ideia de chiqueza, de estilo, de sair para a rua. Não, nunca.
Café era um elemento-chave na produtividade humana, café era poder e todos
deveriam ter um pouco para casos de necessidade. Café pra mim era
preto, num copo pequeno e bem sujo, mas repleto de utilidade. Produzir, falar,
escrever. Sou interessado nos efeitos, na agonia, na rápida resolução de
problemas, e não naquele estilo tão diferente, num sentar, num olhar ou vestir
que parecem tão alienígenas pra mim. Não colocaria uma roupa pra ir tomar um
café. O café não merece e nem pede uma roupa; ele pede coragem, desejo de
vencer e espírito de lutador. Pede dor, sangue, suor, ódio, máquina e
engrenagem.
Por isso quando entro no boteco
da esquina ou na birosca mais suja da região, eu peço café com um desejo quase
viking, agressivamente interior. Eu peço café, o efeito, e não café, o estilo.
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O café
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