sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

A Fantástica Lenda do Miserê da Bahia

Nos babas, driblava e marcava, agarrava, batia. Era o melhor. Corria mais rápido. Conseguia movimentar uma pedra de vários kilos só com a pica. "Né por nada não, mas eu sou desmarcado.", dizia. Mais alto e mais forte do que todos, era temido. Até na arte de comer caranguejo suas habilidades eram superiores. Deixava a carcaça limpa em segundos.

Durante a juventude foi um grande frequentador de festas de camisa e micaretas. Era o terror. Pegava pra mais de trinta. As mais belas mulheres de Salvador caíram no seu plantão. Varava todas. No dia seguinte, na academia, satisfação maior que a do orgasmo era a de contar os detalhes para os amigos. Vangloriava-se.

Depois de um tempo sem vê-lo, eis que me aparece o cara mais miserável que já andou por este chão. O rei de outrora agora surge baixinho e careca, chefe de almoxarifado, noivo fiel de uma garota um pouco acima do peso. O seu abdome, que antes dava pra contar os quadradinhos, deu lugar a uma bela pança.

Não tive coragem de perguntar o que aconteceu. Apenas parabenizei pelo noivado e lamentei pelo sumiço. Conversamos sobre futilidades e nos despedimos. Espero encontrá-lo vivo de novo. Seja numa festa de camisa ou no carnaval de Ondina. Numa academia ou num bar. Não importa. Prefiro ficar com a memória dos melhores dias.

Nenhum comentário: