quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Sobre o trabalho e a ressaca humana



Gosto daquela parte de A Revolução dos Bichos quando o porco ditador bandido Napoleão entra numa cachaçada com seus boys e acaba arrebentado na manhã seguinte.

A cabeça em chamas era extrema demais e o puro sabor de desgraça misturada com cerveja estragada e cigarro Rei V falsificado estavam lá, além da ressaca moral ditatorial que é naturalmente tão mais intensa que as outras e se fazia presente também. Logo os outros porcos assumiram que seu líder havia morrido. O ardor ocular ao ver luzes fortes, a barriga em dor profunda, a vontade de defecar e a moleza física deste membro renegado, além do notável desejo de não sair da cama e a falta de apetite revelam para aquele indivíduo que bebeu demais que sua vida chegara ao fim.

Imagino que o primeiro trabalhador que caiu numa ressaca cometeu o erro de pensar estar morrendo: ligou pro chefe alegando que já tinha vomitado quatro vezes aquela manhã e se cagado todo umas duas vezes, e então estava morrendo, mesmo. Xingou o chefe de "putinha" e explicou para ele que não voltaria mais ao trabalho de bandido vendido e considerou sua eterna liberdade espiritual, já que a liberdade física já havia sido tomada pelo seu labor sanguessuga e a liberdade do corpo estava toda cagada e com cheiro de morte.

Morri, chefe, morri. Minha cabeça está em chamas e meu coração não mais pertence às entranhas de sua verdade econômica. Jogue-se nas chamas do inferno e lembre-se que todos os trabalhadores que aí estiveram não continuaram por vontade de agradá-lo e sim pela necessidade de moedas para o sagrado pão diário. E destas moedas alguns retiram o elixir da vida e o bebem com tanta vontade de encontro com a verdade que a própria bebida suga sua essência e clama por um novo caminho: a inexistência.

Essas foram as primeiras frases ditas ao chefe por parte do trabalhador experiente no cumprimento de tarefas e inexperiente no alcoolismo insociável, até ele cagar mais umas duas vezes e conseguir comer o pão diário de ontem com um copo de água, lá perto das duas da tarde, o que cortaria sua ressaca e o traria de volta à empolgante chama da vida.




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